(Em construção...)
Em janeiro de 2001, depois da Festa
de São Sebastião Mártir, fiz minha mudança para o Seminário São João Batista de
Santa Cruz do Sul, onde fiz companhia aos padres Guido Vogt e Aldo José da
Silveira. Moravam no seminário os seminaristas que cursavam filosofia na UNISC.
Eu era um hóspede que pagava a minha hospedagem e não tinha compromisso com a
formação. Fui nomeado “Presbítero Responsável da Comunidade São José” e
tinha o tempo disponível para escrever a Dissertação do Mestrado.
Na Comunidade São José substituí ao
padre Irineu Rabuske que, a partir de então, se dedicou exclusivamente ao
magistério na PUCRS. Antes do padre Irineu, passaram pela Comunidade os padres
Gentil Delázari e Francisco Hochscheidt. O padre Irineu tinha fama de ser bom
pregador, sendo que tinha pessoas de outras paróquias da cidade que
participavam da comunidade “para ouvir o sermão do Pe. Irineu”. No mais,
conforme ele mesmo disse, “apenas atendeu a comunidade em suas necessidades
básicas”.
Antes de ser apresentado na
comunidade, me encontrei com o presidente Zeno Asmann e o tesoureiro Irineu
Eidt. Fui muito bem acolhido por eles e também pela Comunidade. Basicamente, o
meu compromisso seriam as missas do final de semana e os sepultamentos.
Entregaram-me um telefone celular que antes era usado pelo Pe. Irineu. Na
secretaria trabalhavam a Neli Brum e a Lia Straatmann. Os serviços externos
eram feitos pelo Arnélio Pedó. As irmãs Filhas do Coração de Maria (Maria
Hammes e Clarice Reis) coordenavam a catequese e a liturgia. Tinha alguns ministros
muito disponíveis, entre os quais destaco o Benno Schoerpf, o Egon e a Laura
Rabuske e a Ercilda Ouirives. A eles se somaram, mais tarde, o Silvino Hippler,
o Gérson Silveira, a Judite Fischer, o Luís Hermes e as irmãs Jurema e Silvia.
Na quinta-feira de noite, aproximadamente 100 pessoas se reuniam no Salão da Comunidade para o bingo. Me inteirei da programação e comecei a marcar presença
nos eventos.
Desde logo começamos a fazer reuniões
com a Equipe de Liturgia, com as catequistas e com os ministros. Comecei a
marcar presença nas reuniões da Diretoria da Comunidade. Na quinta-feira de
noite dava uma passada no salão para saudar as pessoas que vinham para jogar
bingo. Conversava com um e outro, depois comia um pastel, tomava uma cerveja e
ia para casa. Nunca me sentei à mesa para jogar.
Um dos principais trabalhos dos
ministros era a visita mensal aos doentes. E nisso, era especial a Ercilda, que
trabalhara no hospital antes de se aposentar. Ela nunca fez leitura na missa e
não fez nenhuma encomendação de falecido. Quando a Judite Fischer recebeu o
envio de ministra, as duas formaram uma excelente dupla. Enquanto a Judite
fazia a animação e as orações, a Ercilda fazia o papel de mãe e enfermeira. É
por isso que eu continuo a insistir que precisamos valorizar os carismas.
Ninguém sabe fazer tudo e também não existe ninguém que não tenha dom para
nada. Um exemplo oposto à Ercilda é o Benno, que se nega a levar a comunhão aos
doentes, mas tem carisma para presidir celebrações de encomendação e da Palavra.
Aliás, falando de celebração, desde o
meu primeiro ano na Comunidade São José introduzimos a prática da Celebração da
Palavra durante as férias do padre. Em vez de nos preocuparmos em arrumar padre
para celebrar, os ministros se desafiaram a preparar e presidir as celebrações.
Com certo receio no primeiro ano, deu tão certo que, nos anos seguintes,
ninguém mais pediu por outra coisa. É sinal de que o povo aceita a celebração
da Palavra, contanto que se use de franqueza e que as celebrações sejam bem preparadas.
Sentindo a falta de animação nas
celebrações, organizamos equipes de animação e contratamos o Celso Sehnem para
formar um grupo de canto. Com ensaios na segunda-feira de noite, conseguimos
organizar um belo grupo de animação. Além disso, por iniciativa do Antônio
Gonçalves, o grupo dos ex-alunos do Colégio Marista São Luis, do qual faziam
parte alguns remanescentes do antigo grupo dos Canarinhos, assumiu a celebração
no terceiro sábado do mês.
Baseados na experiência de Venâncio
Aires, introduzimos a Missa em Honra a São José no dia 19 de cada mês.
Impulsionados pelo entusiasmo do Gérson, que é grande devoto e estudioso de São
José, organizamos, no dia 1º de maio (dia de São José Operário) uma manhã de
formação e oração sobre São José. Utilizamos, como texto base, a Exortação
Apostólica Redemtoris custos do Papa João Paulo II,
“sobre a figura e a missão de São José na vida de Cristo e da Igreja”. Para
nossa surpresa, a adesão foi bastante grande e eu tive que me curvar ante o
conhecimento do Gérson.
Assim, lentamente, conseguimos
motivar a devoção ao padroeiro da comunidade. A culminância se deu quando
tiramos a imagem de São José do alto da Igreja e, depois de restaurada pelas
irmãs do Mosteiro da Santíssima Trindade, a colocamos no chão, em frente à Igreja,
para que as pessoas possam se aproximar dela e fazerem as suas preces.
No intuito de me aproximar da
população negra e integrar os negros na comunidade, comecei a rezar missa, uma
vez por mês, no Clube União da rua Júlio de Castilhos. O clube ficava relativamente
perto da Comunidade, mas tinha vários integrantes que, mesmo sendo católicos,
não frequentavam a Comunidade São José. Rezei algumas vezes no clube, mas por
causa da baixa participação, abandonamos o projeto.
Sob a liderança da Elfoni Werner, começamos
a reunir um grupo de mães que, mais tarde, passou a se chamar “Clube de Mães”.
O grupo se reunia na quarta-feira de tarde para tomar chimarrão e fazer
artesanato. Com o tempo o grupo se fortaleceu e começou a fazer trabalhos para
a Comunidade, entre os quais o ajardinamento na frente da Igreja. Anualmente, o
grupo fazia um passeio. Antes de definir a data, a Elfoni consultava a minha
agenda para que eu pudesse acompanha-las. Foi assim que, depois de muito tempo,
voltei para Gramado e Canela, conheci a “Rota do Vinho” em Bento Gonçalves e
Garibaldi e a maior plantação de cactos da América Latina, no município de
Imigrante.
A partir do Clube da Mães também
surgiu o Serviço da Caridade, com a realização do brechó semanal. As roupas que
eram doadas pelas famílias, se fosse necessário, eram consertadas pelas
senhoras do Clube. Com isso passou a se ter um dinheirinho para ajudar as
pessoas necessitadas.
A partir de 2002, comecei a rezar Missa, semanalmente, na Comunidade das Irmãs Filhas do Coração de Maria. É uma
das formas que eu tenho de me manter próximo da vida religiosa e, sentir, com
elas, as alegrias e as dificuldades da vida em comunidade. Encontrei muita
força na comunidade e sei que elas me acompanham com suas orações.
Com o apoio da Irmã Marta Hammes,
começamos a celebrar o Dia do Catequista com uma gincana entre os
catequizandos. Para organizar a gincana convidamos o Jaime Giovanella. Foi uma
bela iniciativa que serviu para integrar as famílias e aproximar os
adolescentes à Comunidade. O Jaime era uma pessoa que tinha carisma para este
trabalho. Infelizmente, depois de ter cuidado da esposa Rosane que pegara um
câncer e do mano Ênio que tivera um AVC, foi acometido por um câncer e não
sobreviveu. Consegui visitá-lo no hospital e confortá-lo com a Unção dos
Enfermos e, depois, coube-me a tarefa de fazer o seu sepultamento. Chorei a sua
morte junto com a esposa Rosane e as filhas Giana e Tuanny. Foi um amigo que
perdi prematuramente.
Me aproximei da Comunidade Evangélica
Martin Luther e me tornei amigo dos pastores Jair e Glorinha. Na Semana de
Oração pela Unidade dos Cristãos fazíamos celebração ecumênica nas duas
comunidades. Participei de algumas festas na comunidade Martin Luther e os
pastores participaram das festas conosco. As Diretorias das Comunidades
começaram a organizar a agenda de festas em comum. Começamos a publicar de dois
em dois meses, o Boletim “Vida e Comunidade” que era distribuído gratuitamente
e se tornou um importante elo de ligação das duas comunidades com as famílias
do bairro. Éramos uma comunidade ecumênica, apesar de algumas resistências de
um e outro lado.
Com o passar dos anos, outras pessoas
entraram na diretoria e novas ideias foram aparecendo. Foi assim que a Diretoria encabeçada pelo Licério Müller teve a ideia de promover a “Noite da
Lasanha”. Foi uma novidade que trouxe para o jantar muitas pessoas do centro da
cidade. Infelizmente, por causa do custo e do muito trabalho que exige a
preparação das lasanhas, o jantar foi repetido mais duas vezes e, depois, foi
abandonado.
Uma das lacunas era a falta de
preparação para os noivos. Pensamos diversas alternativas, até que o casal
Clara e Antônio Gonçalves se dispôs a assumir a bronca. A Clara era professora
de biologia na UNISC e o Antônio era professor de Educação Física no Colégio
São Luís. Sentamos juntos algumas vezes e fomos para o curso. Para minha
alegria, foi o melhor método de preparação de noivos que eu já havia visto. O
conteúdo foi coordenado pela Clara, e as dinâmicas pelo Antônio. Depois de dois
encontros, a Clara ficou doente e teve que lutar bravamente contra um câncer
nos intestinos. Nunca mais se fez encontro de preparação para os noivos na Comunidade.
Graças ao trabalho na comunidade São
José, conheci o casal Benno e Ingrid Schoerpf. Comecei a frequentar a sua casa
e me tornei amigo da família. Presidi a celebração e encomendação do pai do
Benno e participei do velório dos pais da Ingrid. Várias vezes acompanhei a
família para a praia em Atlântida, onde têm uma bela casa. Dificilmente
passamos uma semana sem nos visitar ou falar. Com o Benno tive acesso a alguns
condomínios fechados de Santa Cruz do Sul e Xangri-lá, e conheci as praias de
Rio Pardo, particularmente a praia do Porto Ferreira. Com ele conheci as
cidades de Arroio do Tigre, Sobradinho e Segredo. Sendo dono de uma fábrica de
móveis (Kroll) ele me mantém informado sobre o humor do mercado, sobre os
bastidores da política local e sobre o que se passa na alta sociedade de Santa
Cruz do Sul. Tendo uma filha (Martina) que trabalha nos EUA (Dell) sou informado
do que se passa naquele país e qual é a visão que os americanos têm do Brasil.
A outra filha do casal (Ramona) é formada em psicologia e trabalha com
Biodança. Com ela tive os fundamentos da Biodança, e só não fiz o curso porque,
na época, a UNISC não conseguiu fechar turma.
No dia 17 de dezembro de 2006, quando
o Internacional de v POA se sagrou campeão do mundo em cima do milionário time do
Barcelona de Ronaldinho Gaúcho, celebrei os 25 anos de ordenação sacerdotal na Comunidade São José. A celebração coincidiu com o horário do jogo, razão pela
qual alguns convidados (Ivo Hammes, Roque Hunhoff e Euclécio Schneider),
seguidamente, davam uma saída para ver como estava o jogo. O animador da
liturgia foi o Gérson Silveira que, mesmo sendo fanático torcedor do
Internacional, se portou com galhardia, permanecendo firme até o final da
celebração. O almoço foi bem animado, sendo que os colorados tiveram um motivo
a mais para comemorar.
Continuei a celebração do jubileu no
dia 7 de janeiro de 2007, com uma missa e almoço na Comunidade São Jacó de
Arroio Grande Superior. Em 1962, quando comecei a estudar e fiz a minha
primeira comunhão, no terreno da atual capela estava a Escola Particular 11 de
Junho. Foi lá que aprendi a ler, escrever e fazer contas. Também foi lá que
aprendi os rudimentos do catecismo com os professores Cuniberto Kreutz, Roque
Neumann e Vilar Majolo.
Quem preparou a celebração do jubileu foi a família do Carlito e da Maria Moers, auxiliados pelas lideranças da comunidade. O Dani Kuhn, meu colega de banco no primário, pagou dois engradados de cerveja. Da Comunidade São José de Santa Cruz do Sul veio o coral e mais alguns amigos. O Valdemar Müller se matou de rir por causa das expressões típicas do alemão de Arroio do Meio. “Mia sin de Poda am abvode. De vol mia do hia uf die carret hocke um dan midem tractoa do ruff fore”. Realmente fui recepcionado por uma carreta agrícola, com direito a flores, bandinha e foguete. Foi uma agradável recepção, seguida de uma bela celebração e uma bonita confraternização, na qual a Comunidade São José participou e deixou saudades. Para minha tristeza, sete anos mais tarde, faleceu repentinamente aquele que mais se empenhou em preparar o jubileu, o meu cunhado Carlito Moers.
PAI, não sois primeiro nosso Juiz e Senhor, mas nosso Pai porque ouvis o clamor de vossos filhos oprimidos.
Que estais no céu para onde se dirige nosso olhar na luta.
Santificado seja Vosso agir libertador contra os que oprimem em Vosso Nome.
Venha a nós a Vossa Justiça a começar pelos empobrecidos.
Seja feita a Vossa Libertação que principia na Terra e termina no Céu.
O pão nosso de cada dia, que juntos produzimos, dai-nos juntos comê-lo.
Perdoai-nos o nosso egoísmo na medida em que combatemos o egoísmo coletivo.
E não nos deixes cair na tentação de explorar e acumular.
Mas livrai-nos da vingança e do ódio contra o mau que oprime e reprime.
Amém.
(Leonardo Boff).
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